Reunião de mensagens
Para pensar os homens
1.
Não
se entregue o homem à desordem, pois se assim proceder não colherá bons frutos,
nem se contente ele com a má colheita daquele outro homem, pois grande mal o
espera.
2.
Proceda
ele na retidão e complacência, e não julgue em vão aquilo que não vê; antes,
consinta ele o perdão e não insista consigo na retenção de mágoas, que mais o
faz sofrer.
3.
Saiba
ele que a palavra que soa de sua boca é poder e perdição, se acaso maldiz a
tudo, disseminando o ódio e a injustiça. Daí calar ser melhor remédio para
impedir que seja impiedoso e culpado, carrasco de si mesmo, e dos outros.
4.
Isso
posto, é que não se mede do homem, o que de fato ele é, pela riqueza e posse,
mas por sua retidão e justiça, compaixão e amor, brandura, preces e
agradecimento; além do que deve se alimentar da palavra, e nela meditar para
prover a vida com sabedoria.
5.
Quanto
ao poder exercido pela força e tirania, de nada valerá o imperador que seu povo
governa, se não reinar sob auspícios da paz. Deverá ele ser justo e generoso,
abnegando-se da violência e da perseguição. Sua vara não servirá nem como lei
nem como escudo; menos ainda como espada, se não for levantada em nome de seu
povo e de sua descendência, que o deu origem e vida.
6.
Não
há nada de absoluto no homem se assim pensa, ser poderoso; nem tampouco reside
nele a razão que, falsamente imagina ter; antes nasce ele de outro desejo e
força, superior a ele e a dele, que o ultrapassa e o inquire sobre que tipo
homem é, e a que serve.
7.
Não
há sentido no homem ao pensar-se rei de seu reino; antes vige uma lei que o
governa, cujo poder tem tamanha força que derruba todas e quaisquer majestades;
seu valor não se mede em peças ou barras de ouro, mas em graças e criação, boa-venturança
e reino eterno.
8.
Se
se perde tudo, oportuno é pensar o preço de cada posse, e o que dela fora
proveitoso ou nefasto; o preço de cada peça e de cada vaso adquiridos para
servir à luxúria. Acerca disso deve o homem pensar no preço da vida, para ver
que não há peça nem vaso, não há dinheiro nem posse, quaisquer valores ou
prazos, pois eis que toda a posse a que se deve prezar e nutrir é divina,
nascida de outra fonte, a misericórdia.
9.
Tolos
são aqueles que têm prazer nas iniqüidades e no autoflagelo, posto que depauperam
a si e a sua própria vida: devem antes escolher entre a videira verdadeira e o
pó, entre a verdade e a farsa; entre o perdão e a brasa, que o pode devorar,
dado que é ouro de tolo.
10.
Mensageiro inútil aquele que prega a guerra e
a tortura; que lança fogo à vida com mensagens vãs e de cunho torpe; que solapa
o destino do bem que se almeja derrocando a esperança, lançando às encostas e
às ventanias as vozes da inocência e da candura, de que dependem os homens e as
crianças.
11.
Mas eis que seu império pouco dura, e não lhe
restará outro caminho que sua própria condenação entre os pântanos que o
entorpecem e as vertigens que o turvam. Adentrará em um mar inóspito, bravo,
revolto e gélido, e derramará sua insensatez em negra gruta, enquanto aguardará
amargo fim de sua quimera, de seu engano.
12.
Aos filhos deixará pouca coisa; partirá sem
tesouros, já não terá pertences nem pertencimento, perecerá por sua insensatez
e maledicência; pagará caro por seu próprio tributo, toda clausura e medo, toda
usura e ameaça, cada porção de maldade e toda a usurpação que o fizera existir
fora da correção dos justos.
13.
Sofrerá
de desesperança e anoitecerá sozinho, pois perderá toda a amizade e confiança,
por não se reger pela mansidão e partilha. Perder-se-á em sua fácil trilha, que
a nada leva, a não ser à perdição, aonde os bons não se inclinam.
14.
Estará declinado ao desperdício de seu próprio
corpo, e empoeirada a sua mente, confuso seu raciocínio; desatinado entre os
homens e desgarrado das crianças.
15.
Perdidas estarão suas ovelhas, cujas lãs não
mais romperão o frio; apagado pavio e calor, morto espírito, desfeito,
desfalecido, peregrinando entre pedras e trovões; edifício sucumbido, pobre
homem, já não vive de bondade.
16.
Mas descobrirá da justiça o que é mais justo e
lamentará cada ato falho, cada injustiça, toda a praga de sua colheita, cada
amargo de sua bebida, o dissabor do pão que rouba e come. Descobrirá o brado
efetivo da palavra, que liberta, que é luz para os homens, posto que é verdade.
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